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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

sábado, 17 de julho de 2010

Os Sabidos

O vento impune e o frio seco fariam daquela noite apenas mais uma igual a tantas outras de inverno. Mas há algo capaz de aquecer mais que qualquer casaco, gorro ou cachecol: a arte. Sabida como ela só, Verônica subiu ao palco com um blazer preto aveludado. A primeira música, acompanhada por Serginho no violão, já foi suficiente para a moça pendurar o blazer na cadeira e exibir uma blusa de paetês e alcinhas. A arte a aqueceu, e a mim também. Voz doce, poesia. Ela cantou o amor, a saudade, o tempo. E com a ajuda de palavras, histórias e memórias trouxe o pai de volta à vida naquele palco. Fernando é o nome dele, imortalizado não só pelas lembranças de família, mas pela obra que deixou para os filhos, netos e todos nós. Quem não leu ‘O Grande Mentecapto’ na escola? Pois é, ele foi o autor. Sabido esse Fernando. Verônica contou que além de escritor, ele também tocava bateria numa banda de jazz. Fora isso, talvez nas horas vagas, era roteirista de curtas-metragens. Era mesmo sabido esse Fernando, assim como a filha, irmã de outros cinco sabidos. Ela cantou e sarou os ouvidos gelados da platéia. Valeu a pena esperar os minutos de atraso. Logo em seguida, o pianista Wagner Tiso entrou em cena todo encasacado, por sua vez. Um lindo arranjo de ‘Eu sei que vou te amar’ inaugurou seu solo, que poderia ser interminável, segundo a aclamação da platéia. Por que parou? Paramos para rir um pouco com mais uma história sobre o irreverente Fernando. Segundo Tiso, o amigo, certa vez, exigiu que ele pusesse uma gravata para acompanhá-lo num evento em Nova York. O que Fernando apesar de sabido não sabia, é que a única gravata disponível naquele momento era do Mickey. E lá foram eles vestidos a rigor para algum canto chique de Nova York. Essa história me lembrou meu pai, também um tanto quanto irreverente, que saiu para trabalhar um dia com uma gravata do Piu-piu. Corajoso ele. Mas, histórias a parte, estávamos todos ali para ouvir música. E ela não deixou a desejar, ecoou bem alto no vasto jardim do CCBB. Noite boa aquela, onde o frio virou calor, onde a morte virou vida. Onde a herança de um pai artista deu o tom às canções da filha. Essa é a sabida família Sabino.

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