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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Bolachões

“Queria fazer agora uma canção alegre, brincando com palavras simples boas de cantar” Milton Nascimento.

Das lembranças que tenho de meu pai, as mais doces, tristes e alegres estão naquela sua coleção de discos de vinil. Coleção variada, com o melhor da música brasileira e internacional. Gosto bom o do meu pai. E me intriga a história dos bolachões. Quando ele acordava alegre e empolgado num fim de semana, era naquele acervo da nossa estante que ele procurava a trilha sonora do dia. Quando estava triste e deprimido, também era lá que ele encontrava refúgio para traduzir seus sentimentos. Ah, os discos. Uma Legião não só Urbana, mas de todo canto, de todo timbre. Vinis para mim didáticos. Com o primeiro disco de Madonna fui capaz de aprender inglês, pasmem. Aos 12 anos de idade decorei diversas músicas, apesar do significado ter vindo só mais tarde. Também decorei Faroeste Caboclo, questão de honra para os adolescentes de 13 e 14 anos na época. Música para Acampamentos e trilha das escolas, mesmo as de freira, como a minha. Também conheci Milton Nascimento, e gostei, apesar das músicas dele terem, para mim, tom de nostalgia e saudade. Aquela que ele canta com um coral infantil em Minas Gerais era a minha favorita. Papai sabia disso. Às vezes ele se fazia de DJ. Era capaz de passar um dia inteiro nos embalando com sua música, sem parar. Mudava de faixa com destreza para não deixar a agulha arranhar o disco. Reduzia o volume de um quando ia partir para outro e dava um jeitinho de colocar bem rápido o vinil para que a troca ficasse quase imperceptível. Nada de tecnologia de vários discos no mesmo aparelho. Era um de cada vez, e cada vez, uma emoção. Porque música é emoção. Ela traduz perfeitamente uma noite de chuva ou uma manhã de céu sem nuvens. Traduz cada momento da minha vida. Quem é que não tem uma trilha sonora para cantar ou contar a própria história? Que falta me fazem aqueles discos, vendidos a preço de banana para um sebo qualquer da cidade. Perda incalculável e irreparável de algo que hoje seria meu maior tesouro, porque guardaria comigo um pedaço bem presente do meu pai.

2 comentários:

  1. lindo seu texto Gabi.. tem varias musicas que eu escuto e lembro do meu pai.. sinto ele quase que cmg na hora !! saudades..

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