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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

domingo, 4 de julho de 2010

Como ficar de férias o ano inteiro

Será que já existe título tão sugestivo nas prateleiras de auto-ajuda? Se existisse algo como tal, talvez figurasse entre os 10 mais vendidos. Afinal, quem não quer ficar de férias o ano inteiro? Mas explico. Certa manhã, exatamente às 7h30, fomos a uma consulta, eu e meu marido. Chegando lá, o médico levou apenas alguns minutos para nos chamar ao consultório. Conversa vai, conversa vem, o gastro chegou até a desenhar um estômago para explicar com detalhes onde fica a tal da cárdia e o motivo do seu alargamento. Preciso dizer que, como desenhista, ele é um ótimo médico. Mas deu para entender o fundamental: os conservantes dos produtos que consumimos estão mudando até o funcionamento dos nossos órgãos. Isso me faz pensar que aqueles documentários sobre comida são mais sérios do que se imagina. Enfim, resultado é que terei que fazer a primeira endoscopia da minha vida e o meu marido terá que retornar ao consultório em 30 dias para ver se a dieta e o remédio para gastrite fizeram efeito. Mas o que isso tem a ver com férias? Nosso querido médico foi o autor da ilustre frase que me fez refletir. Quando perguntei se ele pretendia tirar férias em julho, data em que seria o retorno do meu marido, ele simplesmente disse: “Férias? Aqui estou de férias o ano inteiro!” Afinal, o que faz um médico que vive madrugando para atender pacientes que não sabem sequer onde fica a cárdia e tem que fazer o mesmo desenho exaustivamente para todos se sentir de férias? Que toda semana vê sangue, abre e fecha pessoas, lida diariamente com a doença e os doentes, com perdas e danos? Sim, em resumo, ele ama o que faz. Porque quem ama não vê o tempo passar, não faz caso de ficar além do horário, tenta contornar as situações adversas com bom humor, simpatia e cordialidade. Bem, pelo menos, deveria ser assim. E nós? Amamos o que fazemos? Fazemos o que amamos? Nos sentimos de férias vestindo a roupa para ir trabalhar? Quem sabe um dia eu chegue a este nível. Quem sabe eu troque as murmurações pela singeleza de pensar que meu trabalho é como um cruzeiro. Uma viagem agradável e inesquecível. Se as pessoas encarassem a vida assim, certamente teriam menos gastrite nervosa, fariam menos endoscopia, e dariam mais férias aos gastroenterologistas.

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