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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

sábado, 24 de dezembro de 2011

É Natal. Simples assim.


Dia quente e ensolarado lá fora. Cozinha exalando o perfume do banquete de mais tarde. O tradicional Zucotto, da sobremesa, devidamente preparado, com todo o esmero necessário. Pudim para o almoço de amanhã no forno. O gás acabou bem na hora, como era de se esperar, mas em dez minutos chegou um rapaz eficiente de plantão para repor. Todas as pessoas da família já passaram pela minha cabeça. Aquelas de perto, cada uma, e as de longe também. Já dei alguns telefonemas. Mais tarde tem mais 21. Pela janela, calmaria. Mercados e lojas já estão fechados. Cada família, a seu modo, prepara o encontro ao redor de uma mesa. Tempo de agradecer porque um menino nos nasceu, na simplicidade de uma manjedoura, para nos ensinar a ser simples. Que aprendamos todos com Ele. E vamos celebrar a vida, com a simplicidade de um sorriso e de um abraço.

Um Natal de luz e paz a todos!

São os votos do Caso Antigo. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Palavras-chave de hoje

Suicidio
sem agua
no sol de meio dia
enquanto outros nadam
cupula interminavel
surreal
chega
fui

PS: O cansaço nao me permite mais completar frases e períodos. Depois que eu retomar a consciencia, tomar um banho, me alimentar e tiver um teclado com todos os acentos que preciso, retomo o fio da meada.

De Montevidéu, no Uruguai, um restinho de mim.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ausência de cor

Nas aulas de artes do ensino fundamental a gente aprende que o preto significa ausência de cor. E mais tarde, descobrimos que o luto significa muito mais que ausência de cor, mas a ausência de alguém amado. Hoje nossa aquarela sente a falta de uma das suas cores mais vibrantes. Uma cor que deixou o tom marcante da saudade, que hoje faz aniversário. Um aniversário sem cor. Cinco anos sem meu pai. Parece que foi ontem. Parece que nunca foi. Porque a ausência dessa cor vai durar pra sempre.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Casa no campo


Ontem tive um estranho desejo de ter uma casa no campo. Num lugar cheio de flores, plantas e silêncio. Cheio de paz e pássaros para cantar na janela. Cheio de verde. Apenas uma rede na varanda fresquinha no entardecer e um cafezinho quente com pão no amanhecer. Vida elementar, onde o vento sopraria uma canção em cada fresta, e eu docemente acordaria em festa, de bem com a vida, com a cabeça leve e os pés firmes no chão, de terra. Comer fruta do pé, colher a salada do almoço, plantar, como diz Elis, meus amigos, discos e livros. E nada mais. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um desejo



'Pitanga, vieiras grelhadas, folhas precoces e bruscheta de coral'. Há algum tempo passei a perceber que antes de se comer com a boca e com os olhos, saboreia-se com a imaginação. Prova disso é a entrada descrita no cardápio do restaurante de um renomado chef dinamarquês que escolheu Brasília como habitat. Só de ler me dá água na boca, ainda que eu não conheça as nuances dessa mistura. Mas de tanto apreciar esta nobre arte gastronômica, às vezes me vem um desejo enorme de fazer dela um hobby levado a sério. Não que eu precise estudar na Cordon Bleu, mas talvez fazer uns cursos por aí, experimentar novos sabores, dar nome às minhas invenções. Mas antes, preciso saber inventá-las. Porque comer é mais que um ato de sobrevivência para quem ama cozinhar, é um ato de prazer e inspiração. Quisera eu fazer tais peripécias na cozinha, com ingredientes raros e comuns em harmonia perfeita. Colocar a mesa e convidar os amigos para uma surpreendente degustação, regada a um bom bate-papo. Mas por enquanto recorro àqueles que já desvendaram o caminho das pedras e das panelas. É uma pena que não é todo dia que se pode usufruir de cardápios maravilhosos e ousados, assinados por um chef. Acabamos deixando para as ocasiões especiais, especialíssimas. Mas cada uma delas se torna inesquecível, já que um sabor cativante vira lembrança e nunca mais sai da memória. Cada prato especial que provei está devidamente registrado. Quem sabe um dia este vire um blog de culinária para que possa ser mais que lido, degustado. Bom apetite!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Passando a limpo

 
Fim de ano. Hora de fazer aquela faxina não só nos papéis, mas nas metas, sonhos e objetivos. Um balanço inevitável e imprescindível. Muitos sentimentos ruins para jogar fora, algumas atitudes para reciclar, mais amor para doar, junto com peças de roupa que certamente ainda alegrarão o dia de alguém. Tempo também de acionar aquelas memórias adormecidas, que trazem tantas lições. Há de se contabilizar a dor das perdas e o prazer dos ganhos. Há que se somar as lágrimas de alegria e as de tristeza e dividi-las pelas emoções de cada instante. O resultado será a trajetória corajosa de romper mais um ano cheio de experiências novas ou reinventadas que certamente efetuaram alguma forma de amadurecimento. Para esta conta não é preciso calculadora, mas um coração disposto a mudar o que for preciso. E se o tempo gasto com coisas pequenas e inúteis foi superior aos minutos nobres de alegria e paz, de gargalhadas despretensiosas e de abraços apertados, está na hora de inverter a ordem dos fatores. De parar de apenas lavar a roupa suja, mas usar a roupa limpa. E entrar no novo ano livre de ressentimentos, e com muita vontade não só de ser, mas de fazer o outro feliz.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Sessão da Tarde

Quarta-feira chuvosa e repetitiva na capital federal. Nunca assisti tantas vezes ao mesmo filme, esta é a 6ª, e não se sabe se será a última. Há várias sugestões para o título da Sessão da Tarde. Poderia ser: A Queda - parte 6, ou quem sabe, Ministros em Apuros, ou ainda, A Faxina Continua, mais uma: Entrando numa fria 6 vezes maior. Uma perfeita tragicomédia. É literalmente rir para não chorar. Me agrada, particularmente, o fato da sujeira não ficar debaixo do tapete, mas me incomoda a possibilidade da sujeira existir da forma como está sendo colocada. Quero acreditar na justiça do país, apesar da magistrada ter soltado o verbo recentemente, sobre os bandidos de toga. Só nos resta esperar o desfecho, regado a muita pipoca e debaixo do cobertor, porque a gripe está chegando! 

sábado, 22 de outubro de 2011

Amor amado

Será que é possível amar o amor? Amar esse sentimento que de tão nobre não é apenas emoção, mas é dom? Dom perfeito, característica inerente ao próprio Deus, e criado por Ele. É possível amar esse dom de se dar, de se perdoar, de tudo crer e tudo esperar? Será que a também nobre língua portuguesa permitiria tal redundância? Pois que as regras e sintaxes dêem licença, porque amar o amor é mais que reticente, é eterno. É abstrato que se torna concreto em cada ação e gesto. É atitude de reconhecer que, sem amor, nada se aproveita, nada se é, nada. E se para Mário de Andrade, amar é verbo intransitivo, crio aqui uma exceção, uma oração subordinada: o amor. Agora tudo faz sentido. Amar o amor é possível, porque Deus é amor.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Resumo da ópera

Chegada à África

Meu amado regente costuma dizer que a primeira e a última nota da música são as mais importantes. Precisam ser precisas, afinadas, mais que corretas, bonitas. Mas o caminho a percorrer entre elas é diverso, cheio de altos e baixos. Notas longas, de perder o fôlego, ou curtas, stacatas. Semibreves ou semicolcheias. E, às vezes, é preciso silenciar. As pausas estão ali pra isso. Um descanso necessário, em meio a tantos acordes. Com este prelúdio, quero dizer que a minha primeira impressão da África foi uma nota de tirar o fôlego, de uma beleza árida e complexa. Com uma pausa no sono, decidi abrir a janela do avião na hora exata em que ele chegava ao continente. Com olhos não mais sonolentos, mas deslumbrados, vi o primeiro deserto da minha vida, o Kalahari. O oposto da fartura, uma desconcertante escassez. O silêncio nos acordes me acordou de vez para essa nova realidade. Foi o rito de passagem da primeira nota para uma melodia inédita e cheia de contrastes. Da moda careca da mulher africana ao turbante do jornalista indiano que veio pautado pelo mesmo IBAS. Iniciais de Índia, Brasil e África do Sul, que se uniram há alguns anos para tentar amenizar justamente os contrastes sociais. Mas o que mais me chamou atenção neste lugar não foi a Cúpula, com seus infindáveis protocolos, e sim os tons e semitons desse cenário multicultural, que despertaram ainda mais o meu senso de cidadã do mundo, ainda que jamais tenha pisado em Nova Iorque. Foi um curtíssimo tempo, eu diria staccato, para ter impressões mais profundas. Mas só de pisar nas ruas da África do Sul, conhecer de perto algumas raízes brasileiras, brincar uma tarde com um filhote de leão, ver mais uma parte da criação de Deus, esbarrar com um rinoceronte iluminado na decoração de Natal do shopping e com a estátua gigante do Nelson Mandela, num país que há pouco tempo passou pelo absurdo regime de segregação racial do Apartheid, já valeu todo o esforço desta cobertura. A música começou com a pausa silenciosa do deserto para logo evoluir para virtuosos compassos. E antes que haja um contratempo, eu, como uma legítima contralto, encerro essa melodia com uma nota inspirada. Não um Dó, ou um Mi, mas um Sol, que de fato nasce para todos, indiscriminadamente, e ilumina toda essa rica oportunidade que tive, esperando que um dia haja um Ritornello. E como num Requiem, me despeço dessa terra colorida de jacarandás com um sonoro Amém.

Ruas floridas de Pretória - África do Sul

À esquerda, jornalista africana, e à direita, indiano. Diversidade.

3 continentes, 3 emergentes, 3 poderes: IBAS
Experiência inesquecível

Amolando os dentes no meu tênis

Foi nessa hora que levei a inevitável unhada

O pai do Simba
Nelson Mandela Square - Johannesburgo

Ao invés de renas, rinos.

Mais surpresas no shopping
E o último pôr do sol na África.
  

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Próximo destino: South Africa!


A vida segue cheia de novidades, mas sem tempo para registrá-las. Fatos novos e outros nem tanto. Um deles merece a manchete de hoje. Em poucas horas atravessarei de novo o oceano rumo a um destino inédito no passaporte: África do Sul. Depois da experiência chinesa, esta, sem dúvida, será a cobertura mais marcante nesta trajetória de ponte aérea. Terra do rinocerante branco, dos jacarandás e de tanta história que vou descobrir de perto. O voo vai até Johannesburgo, a maior cidade sul-africana, mas de lá seguimos para Pretória, a capital administrativa, onde na próxima terça-feira acontecerá a V Cúpula IBAS (Brasil, Índia e África do Sul). A mala certamente levará minha alegria e gratidão a Deus por mais esta oportunidade de desbravar esse mundão que Ele mesmo criou. África, aí vou eu! 

Parlamento de Pretória

sábado, 17 de setembro de 2011

Qual a nova?

Um certo homem, muito simples, trabalha recolhendo jornais para vender a uma empresa de reciclagem. Quanto mais, melhor. O peso dos tablóides representa quanto ele tirará de sustento ao fim de um dia. Mas este homem não é apenas um catador de papel. É um contador das manchetes que carrega debaixo do braço. De repartição em repartição, chega dando o resumo das notícias da semana. – Você viu? O preço da gasolina vai aumentar. E vai cair mais um ministro! Você viu? – Costuma dizer esbaforido de tanto andar. E quanto mais a pilha de jornais aumenta sobre seus ombros, mais variado fica seu repertório. Ninguém sabe ao certo o nome dele, mas por não guardar a informação só para si, e sair aos quatro cantos divulgando o que leu, este homem foi carinhosamente batizado de Clipping Hoje. O porta-voz mais eficaz de reportagens nas redondezas do Conic, em Brasília. Um batalhador que tem prazer no que faz. O tesouro dele está além do preço do papel reciclável. Está no peso das notícias que o tornam o homem mais bem informado do pedaço. Hoje, ele é quem virou manchete no blog, e eu digo a nova: É que a umidade relativa do ar passou de 10% para 64% em Brasília, e me trouxe de volta à vida e às palavras. Que venha a chuva estampada na capa dos jornais, para mais uma vez o Clipping Hoje exclamar: Você viu?!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Bocado seco

Queria fazer agora um texto alegre, brincando com palavras simples, boas de contar. Começo parodiando Milton, para dizer que até o simples é complicado. Aquele ponto percentual solitário da inspiração me deixa a ver navios nesse mar de terra do Cerrado. Não consigo pensar em mais nada a não ser no mar. Ou no rio, ou na chuva que, além de umidade, traz sempre um quê de melancolia e um fôlego novo para as palavras. Mas a seca assalta minha imaginação. Leva de mim até a última gota de pensamento. Deixa minha mente empoeirada. Tudo ao redor é sem cor, sem a vivacidade do verde. Só o ipê amarelo dá o ar da graça e, de graça, nos alegra o dia. Mas até o azul do céu se rendeu à névoa cinzenta e à fumaça densa que tanto incomoda os pulmões. A fartura de outrora, agora é escassez. É um bocado seco de ideias, que não passam de vãs repetições. Mas se o mar não vem me socorrer, a chuva há de cair e trazer de volta minhas palavras simples e complexas, meus textos alegres ou tristes, minha prosa, minha poesia. Enquanto isso, conto gotas de saudade, para não desperdiçar.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Balanço Geral

Entre margaridas e cravos, salvaram-se todos, menos Wagner Rossi. A semana ainda não acabou, mas até aqui foi uma avalanche de acontecimentos que já permitem um balanço, ainda que parcial. 70 mil campesinas do país se alojaram no Pavilhão do Parque da Cidade para a quarta Marcha das Margaridas. Os motivos eram de força maior: combate à violência no campo, que matou Margarida Alves em 1983, melhorias no trabalho e outros benefícios, tudo já bem costurado com o governo. Elas andaram do Parque ao Congresso e deixaram milhares de motoristas aborrecidos. Pudera, carros e margaridas não ocupam o mesmo lugar no espaço. A divisão das faixas foi meio a meio, mas isso não foi suficiente. O engarrafamento foi inevitável. Mas embora os jornais locais só falassem dos transtornos do trânsito, elas não pareciam amarguradas, seguiam cantando. Especialistas já viram o congestionamento por outro ângulo: a culpa é do transporte público ineficiente, que não pode socorrer a população num dia atípico como este. Mas é mais fácil colocar a culpa nos movimentos sociais. Como se Brasília não fosse a capital federal e legítimo palco de manifestações democráticas. Brasilienses devem saber desta natureza, diferente de qualquer outro canto do Brasil. Ossos do ofício. Mas fato é que fiquei três dias atrás de histórias e respostas para as mulheres do campo. A presidente veio no apagar das luzes fazer os anúncios que elas queriam ouvir. No início do discurso chamou Agnelo Queiroz de Agnelo Rossi, talvez lembrando do ministro que naquele momento pedia demissão da pasta da Agricultura. Mas depois, com um chapéu na cabeça, falou o que estava no script. Era hora das centenas de ônibus de margaridas voltarem para casa para, daqui a 4 anos, retornarem à capital. Será que o sistema de transporte já estará pronto para recebê-las? Se elas geraram transtorno, imaginem os torcedores da Copa, do mundo todo? E a semana continua! 

sábado, 13 de agosto de 2011

O homem invisível

Carne, osso, coração, cérebro. Estava tudo ali, indiscutivelmente. Olhos para ver, braço forte para trabalhar, ouvidos para ouvir. Não parecia haver nada de errado com aquele homem, a não ser o fato de que ele nunca existiu oficialmente. Era um dos milhares de brasileiros que nasceram e cresceram no mais completo anonimato, sem certidão, sem data ou local de nascimento. Afinal, quem seria aquele homem forasteiro, sem lenço nem documento? Nome ele tinha, chamava-se Eduardo. Idade? Seu palpite era de 35 anos. Rosto sofrido por trabalhar de sol a sol, e mais ainda por não conhecer bem seu passado, sua origem.  Por não exercer direitos, só deveres. Dever de ser quem nunca foi no papel. De trabalhar sem garantias. De lidar com a indiferença social. Seu documento era sua palavra. Dizia ter nascido no Maranhão, e vivia de lembranças. E ao ser questionado sobre como calculava a idade, contou que sua mãe, também sem certidão, o ensinou a contar o tempo. Mas isso não era suficiente, precisava de testemunhas que comprovassem sua existência e dessem fé de sua história. Encontrei outros tantos protagonistas de histórias assim em Altamira, no Pará. Eduardo, agricultor, cansado dessa situação, participou de um mutirão para tirar finalmente a primeira via do registro. Na sala de audiências improvisada numa escola, aguardava ansioso na fila. Precisava das testemunhas e de uma foto 3x4. Estava a um passo de ser quem de fato era. Homem de bem, trabalhador, que só queria uma coisa: deixar de ser invisível para ser um cidadão.

Reportagem Cidadania Xingu - http://www.youtube.com/watch?v=aIuucOpLedU


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Xinguzão

Num barquinho, no meio do rio, uma linha, um anzol e um sorriso. Uma história de pescador. Um homem simples e feliz que sem aumentar nem inventar sentenciou: "Tudo o que tem de belo no mundo é o nosso Xinguzão!"

Conhecer um pouco da vida ao redor do Xingu foi tão surpreendente quanto ir ao outro lado do mundo. Um Brasil que jamais havia conhecido de perto se revelou a mim em incansáveis e intensos oito dias. Ao desembarcar em Altamira, no Pará, o ar puro da Amazônia já sarou meus pulmões ressecados de Brasília. Um paradoxo também já se revelava. O maior município do país, com área equivalente a cinco vezes o tamanho da Bélgica, por exemplo, tinha o menor aeroporto de todos por onde já passei. As malas são colocadas por funcionários sobre uma bancada de madeira. Esteira ainda não chegou por lá. Haja força. Depois das malas em mãos, a saída do despacho de bagagens daria direto na rua, no pequeno estacionamento do aeroporto. Ali, a densa vegetação amazônica dava as boas-vindas e renovava meu ânimo, até então seriamente prejudicado, por estar mais uma vez tão longe de casa. Prosseguimos em busca de personagens. Pessoas munidas de informações, histórias e emoções que nos ajudassem a entender aquele lugar imenso. A feira do produtor de Altamira foi a primeira parada. A gentileza e simplicidade do povo logo se revelaram também. Polpa de cupuaçu, tucupi e farinha de tapioca são ingredientes que não podem faltar na casa do altamirense. Como já dizia o feirante, "é tapioquinha de manhã, tapioquinha de tarde e tapioquinha de noite. A gente não vive sem nossa tapioquinha!" A partir daí um novo mundo se descortinava. Ali as pessoas se divertem nas praias. Praias de rio que logo sumirão por conta da grande hidrelétrica de Belo Monte. Elas também se equilibram sobre palafitas, fugindo para abrigos na época da cheia do rio e enfrentando riscos na seca, quando lixo e água parada se acumulam. Crianças correm para lá e para cá sobre as pontes de madeira, que podem ceder a qualquer momento, como aconteceu com Flávio, pai de família que quase perdeu a vida porque caiu sobre um copo de vidro. Dos 100 mil habitantes de Altamira, cinco mil ainda vivem nessa situação. "O que a gente quer mesmo é sair daqui", diz Flávio. E a cidade segue crescendo. Por conta da construção da usina, a expectativa é dobrar o número de habitantes num curto espaço de tempo. A especulação imobiliária já é fato. Aluguéis de 600,00 passaram para 1.500,00. De 1.000,00, para 3.000,00, e assim por diante, como contam os próprios moradores. A rua comercial é efervescente. Teve gente que abandonou a roça para abrir uma empresa. Está dando lucro. Mas muitos ao redor ainda vivem da terra. E a terra roxa, própria para o cacau, é uma das mais valiosas. "O ouro de Altamira é o cacau", já dizia o agricultor Antônio, mais conhecido como Baiano. Orgulhoso da fazenda que gerencia há 25 anos, ele não abre mão da lida. Parte o cacau com a mão mesmo e oferece para a equipe. Por ali também conheci um projeto pioneiro de cacau orgânico da Amazônia. Coisa fina. As amêndoas seguem direto para a Áustria, para fabricar um daqueles chocolates maravilhosos. Mas provei um chocolate artesanal, feito na panela mesmo. Gosto exótico, e não menos saboroso. Foram tantas novidades que não há como esgotar num post. Depois volto e conto da emoção de um homem de meia idade que nunca foi registrado. E da Transamazônica, que de rodovia só tem o nome, escondido num rastro de poeira.

Reportagens Xingu:


domingo, 31 de julho de 2011

Ar puro...


...um dos encantos da Amazônia. Depois conto mais direto de Altamira, no Pará. Minha casa por uma semana.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amizade tem idade?


Recebi esta imagem hoje por email de uma amiga-prima-irmã pelo Dia do Amigo e fiquei pensando na idade de uma amizade. Será que ela tem uma? Será que tem prazo de validade como um produto perecível da prateleira? Será que sobrevive a crises, a longas distâncias, a discordâncias. Até que ponto uma amizade tolera a diferença? E se não tolera, se não é amistosa, será que um dia foi mesmo amizade? Mas algo me diz que uma amizade de verdade é eterna. Até depois da morte deixa saudades. É um amor que não se explica. Não está no sangue, mas no coração. A amizade nasce de uma afinidade extrema, de um carinho, de uma vontade de cuidar, de ver aquela pessoa feliz sem receber nada em troca. Amizade está em conversar sobre tudo, atento aos limites, mas sem fronteiras. É respeitar, acima de tudo, e quando falta o respeito, é saber pedir perdão. E quando se sentir desrespeitado, é saber perdoar. Amizade para mim não tem idade. Se um dia acabou, talvez nunca tenha sido, de fato. Mas se um dia esfriou, pode ser que depois de um tempo reencontre um lugar aquecido reservado no coração. Porque sabiamente diz a Canção da América, uma de minhas favoritas desde a infância, que amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito. Guardo no meu, debaixo de sete chaves, alguns poucos amigos, que me acompanham sempre, e que já vi partir, como meu querido pai-amigo. E quem disse que mãe não pode ser também a melhor amiga? Pode, e é. E todos os outros queridos que tenho um carinho imensurável, um amor que, venha o que vier, não acabará. Obrigada pela inspiração das velhinhas Alline, minha amiga de longa data, de muitas risadas, de momentos difíceis e de superação. Amo vocês, a quem dedico esta canção.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Nonada

Primeiro dia de trabalho depois de uma semana de férias. A vida aos poucos vai voltando ao lugar, com horários, trânsito e responsabilidades que levam à rotineira rotina. Na verdade, minha rotina é um tanto quanto imprevisível. Meu escritório não é na praia, mas também não tem endereço certo. Cada pauta, um destino, um itinerário, um lead, uma chamada. Ou não. Hoje mesmo meu dia não rendeu nada. Só expectativas que não evoluíram para uma matéria. Nada. Só penso em chegar logo em casa e fazer uma receita deliciosa que aprendi hoje. Quem sabe amanhã algum assunto, em algum lugar, faça minha rotina valer a pena. Enquanto isso fico enveredada nesse grande sertão de notícias. Podia estar lendo Guimarães Rosa. Nonada.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Hasta siempre!

O roteiro turístico de qualquer lugar se torna muito mais interessante quando temos tempo de caminhar sem pressa, dispostos a descobrir novas esquinas, observar e sentir o ritmo da cidade. Foi isso que fizemos quando soubemos que o famoso bairro da Recoleta ficava a alguns quarteirões do hotel. Mais uma vez, pé na estrada. Pelo caminho, prédios antigos e rebuscados nos chamam atenção e deixam o passeio ainda mais interessante.

Vista do hotel: Av. 9 de julio
                                      




A Recoleta é um bairro nobre cheio de lojas de luxo. Chegamos a entrar em uma galeria de arte e jóias. Também passamos por uma praça de árvores gigantes. Alguns moradores de rua chegam a dormir entre suas raízes.

Uma das vitrines chiques da Recoleta. Chocolate!


Mas o que nos interessava mesmo era o Cemitério histórico, onde estão os os túmulos de Eva Perón e da alta sociedade argentina. Antes, uma passagem pela igreja que fica ao lado, construída em 1732, hoje declarada basílica e patrimônio nacional. Subimos algumas escadas da igreja para ver algumas relíquias e descobrimos uma vista aérea do cemitério da Recoleta.

Notações do canto gregoriano. O início da escrita musical.

Cemitério da Recoleta visto de cima

Nunca vimos tanto luxo para os mortos. Dizem que o cemitério da Recoleta é o metro quadrado mais caro da cidade. Inaugurado em 1822, além de receber corpos de personalidades, é um verdadeiro museu a céu aberto, cheio de esculturas e obras de arte que amenizam o clima mórbido do lugar. O Beg quis ficar andando entre os corredores, o que não me agradava muito. Queria sair logo dali... Mas concordo que é um lugar de visitação imprescindível.





Saindo do cemitério, hora do almoço. Restaurantes bem aconchegantes não faltam do outro lado da rua. Promotores ficam na porta fazendo propaganda e entregando folhetos com os cardápios. Escolhemos um onde o prato principal do dia era um ojo de bife, tradicional na Argentina. Para nós, o miolo da alcatra. Servido com batata recheada, salada verde e o típico molho chimichurri, com ervas e pimenta. De cortesia, uma taça de espumante. Delícia!

O que faz parte do chamado cubierto. Sempre pãezinhos com alguma pasta para abrir o apetite.

Da Recoleta voltamos a pé para o Hotel e depois fomos andar na rua Florida, das compras. Só andar... O jantar foi no Puerto Madero. Um buffet livre cheio de carne para todos os gostos, para variar. O Beg só achou tudo meio sem sal. Eu até me acostumei.


Mais doce de leite. huuummmmm

No caminho, o Teatro Colón.

Terça-feira - Primeira parada: Palermo

Palermo é um bairro enorme em Buenos Aires, e por isso mesmo dividido em algumas partes. Andamos um pouco pelas ruas do Palermo Viejo. Tem muitas lojas, restaurantes e cafés, além de pracinhas onde crianças e idosos passam o tempo. Lá também encontramos por acaso o Jardim Botânico, lindíssimo. Um pulmão no meio da cidade e também cheio de belas esculturas.



De Palermo para La Boca, onde fica o Caminito

Decidimos conhecer outro ponto muito tradicional, o bairro La Boca, que segundo o taxista é habitado por muitos italianos e descendentes. O bairro é meio esquisito, mas o Caminito é parada obrigatória. É um centro turístico todo colorido e cheio de artesanatos. E o melhor, em todos os restaurantes, apresentações de tango. Escolhemos um para apreciar.



Tango no restaurante

Haja gordura!
Nosso tempo em Buenos Aires está acabando, mas na mala levaremos alguns alfajores para adoçar estas lembranças e muitas fotos para colorir um álbum que já deixa saudades. Hasta siempre hermanos!