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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Xinguzão

Num barquinho, no meio do rio, uma linha, um anzol e um sorriso. Uma história de pescador. Um homem simples e feliz que sem aumentar nem inventar sentenciou: "Tudo o que tem de belo no mundo é o nosso Xinguzão!"

Conhecer um pouco da vida ao redor do Xingu foi tão surpreendente quanto ir ao outro lado do mundo. Um Brasil que jamais havia conhecido de perto se revelou a mim em incansáveis e intensos oito dias. Ao desembarcar em Altamira, no Pará, o ar puro da Amazônia já sarou meus pulmões ressecados de Brasília. Um paradoxo também já se revelava. O maior município do país, com área equivalente a cinco vezes o tamanho da Bélgica, por exemplo, tinha o menor aeroporto de todos por onde já passei. As malas são colocadas por funcionários sobre uma bancada de madeira. Esteira ainda não chegou por lá. Haja força. Depois das malas em mãos, a saída do despacho de bagagens daria direto na rua, no pequeno estacionamento do aeroporto. Ali, a densa vegetação amazônica dava as boas-vindas e renovava meu ânimo, até então seriamente prejudicado, por estar mais uma vez tão longe de casa. Prosseguimos em busca de personagens. Pessoas munidas de informações, histórias e emoções que nos ajudassem a entender aquele lugar imenso. A feira do produtor de Altamira foi a primeira parada. A gentileza e simplicidade do povo logo se revelaram também. Polpa de cupuaçu, tucupi e farinha de tapioca são ingredientes que não podem faltar na casa do altamirense. Como já dizia o feirante, "é tapioquinha de manhã, tapioquinha de tarde e tapioquinha de noite. A gente não vive sem nossa tapioquinha!" A partir daí um novo mundo se descortinava. Ali as pessoas se divertem nas praias. Praias de rio que logo sumirão por conta da grande hidrelétrica de Belo Monte. Elas também se equilibram sobre palafitas, fugindo para abrigos na época da cheia do rio e enfrentando riscos na seca, quando lixo e água parada se acumulam. Crianças correm para lá e para cá sobre as pontes de madeira, que podem ceder a qualquer momento, como aconteceu com Flávio, pai de família que quase perdeu a vida porque caiu sobre um copo de vidro. Dos 100 mil habitantes de Altamira, cinco mil ainda vivem nessa situação. "O que a gente quer mesmo é sair daqui", diz Flávio. E a cidade segue crescendo. Por conta da construção da usina, a expectativa é dobrar o número de habitantes num curto espaço de tempo. A especulação imobiliária já é fato. Aluguéis de 600,00 passaram para 1.500,00. De 1.000,00, para 3.000,00, e assim por diante, como contam os próprios moradores. A rua comercial é efervescente. Teve gente que abandonou a roça para abrir uma empresa. Está dando lucro. Mas muitos ao redor ainda vivem da terra. E a terra roxa, própria para o cacau, é uma das mais valiosas. "O ouro de Altamira é o cacau", já dizia o agricultor Antônio, mais conhecido como Baiano. Orgulhoso da fazenda que gerencia há 25 anos, ele não abre mão da lida. Parte o cacau com a mão mesmo e oferece para a equipe. Por ali também conheci um projeto pioneiro de cacau orgânico da Amazônia. Coisa fina. As amêndoas seguem direto para a Áustria, para fabricar um daqueles chocolates maravilhosos. Mas provei um chocolate artesanal, feito na panela mesmo. Gosto exótico, e não menos saboroso. Foram tantas novidades que não há como esgotar num post. Depois volto e conto da emoção de um homem de meia idade que nunca foi registrado. E da Transamazônica, que de rodovia só tem o nome, escondido num rastro de poeira.

Reportagens Xingu:


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