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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

sábado, 13 de agosto de 2011

O homem invisível

Carne, osso, coração, cérebro. Estava tudo ali, indiscutivelmente. Olhos para ver, braço forte para trabalhar, ouvidos para ouvir. Não parecia haver nada de errado com aquele homem, a não ser o fato de que ele nunca existiu oficialmente. Era um dos milhares de brasileiros que nasceram e cresceram no mais completo anonimato, sem certidão, sem data ou local de nascimento. Afinal, quem seria aquele homem forasteiro, sem lenço nem documento? Nome ele tinha, chamava-se Eduardo. Idade? Seu palpite era de 35 anos. Rosto sofrido por trabalhar de sol a sol, e mais ainda por não conhecer bem seu passado, sua origem.  Por não exercer direitos, só deveres. Dever de ser quem nunca foi no papel. De trabalhar sem garantias. De lidar com a indiferença social. Seu documento era sua palavra. Dizia ter nascido no Maranhão, e vivia de lembranças. E ao ser questionado sobre como calculava a idade, contou que sua mãe, também sem certidão, o ensinou a contar o tempo. Mas isso não era suficiente, precisava de testemunhas que comprovassem sua existência e dessem fé de sua história. Encontrei outros tantos protagonistas de histórias assim em Altamira, no Pará. Eduardo, agricultor, cansado dessa situação, participou de um mutirão para tirar finalmente a primeira via do registro. Na sala de audiências improvisada numa escola, aguardava ansioso na fila. Precisava das testemunhas e de uma foto 3x4. Estava a um passo de ser quem de fato era. Homem de bem, trabalhador, que só queria uma coisa: deixar de ser invisível para ser um cidadão.

Reportagem Cidadania Xingu - http://www.youtube.com/watch?v=aIuucOpLedU


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