Quem sou eu

Minha foto
Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Por que o frio?

Por que o frio? Por ser um convite ao abraço, ao afago. Um inevitável pretexto para chegar perto, aconchegar-se, buscar o que de melhor se pode achar no outro. Quem sabe um carinho acolhedor, um abrigo, um cafuné capaz de derreter o gelo, ou até quebrá-lo. O frio é, definitivamente, unir-se, e não separar-se. Por isso, e por muito mais, escolhemos aquela noite fria de 9 de julho (e de 9 graus) para nos unirmos. Não apenas por um instante, ou enquanto durasse o inverno, mas por todas as demais noites e dias e fases da vida. Uma escolha de toda e de cada estação. Que venha o frio, o vento, a neve. Um coração aquecido não pega resfriado.

Poder de síntese


A vida aconteceu de maneira tão intensa nos últimos meses que fica impossível sintetizar todos os fatos num mísero post. Mas vou enriquecê-lo só com a notícia do ano, meu lead, minha manchete: me tornei mãe. O dia 03 de maio de 2013 entrou para a nossa história e inaugurou uma novinha em folha, a do Davi. Pequeno que já despertou em nós um amor gigante. Tanta coisa para contar, experiências para compartilhar. Mas o tempo de mãe, pudera, é escasso. Então, prometo que volto, um dia, entre uma soneca e outra deste pequeno que precisa tanto de mim agora. (E por falar nisso, ele já está despertando do seu rápido descanso). Até!

quarta-feira, 27 de março de 2013

Terra à vista


Em poucas semanas, o mundo não será o mesmo, nem a casa, nem a vida, tampouco eu. Sairei do delicado status de filha, para o dedicado status de mãe. Um upgrade de novas emoções, sensações e responsabilidades. Deixarei de ser gestante para ser puérpera, lactante, e outro sem número de nomes que quiserem dar. Para mim, simplesmente mãe, com toda a complexidade implícita nessas três letras. A barriga já começa a pesar, tal qual a ansiedade diante do novo cenário que se constrói. Medo, insegurança, força, coragem, tudo junto e misturado, com o perdão do jargão ultrapassado. Mas é assim. O novo ser que não para de se movimentar dentro de mim, em breve movimentará tudo ao redor aqui fora. Porque nem o mundo, nem a casa, nem a vida são ou serão mais os mesmos, tampouco eu. Serei mais feliz.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Palavras perfumadas

Apaixonada pelas palavras, a menina cismava em preencher aquelas folhas perfumadas dos diários cor de rosa que ganhava da mãe. Eram sonhos, devaneios, histórias sem pé nem cabeça, mas sempre com o coração dela impresso em cada frase. Com a letra arredondada, fruto de horas a fio nos cadernos de caligrafia exigidos pela professora, expressava o que tinha de mais puro, travesso, bobo, profundo. Textos coloridos de sentimento, que a transportavam para um mundo só dela, que de solitário não tinha nada. As palavras eram fiéis companheiras de toda e qualquer hora. A menina cresceu, as páginas com cheiro de lavanda deram lugar a um sem número de bloquinhos de papel reutilizado, e a letra arredondada se transformou em garranchos que tinham o dever de transcrever a fala rápida de um entrevistado. Os registros de sonhos e devaneios viraram aspas extraídas de uma coletiva de imprensa, sem eu-lírico, sem narrador-personagem. Ela tornou-se uma mensageira de fatos, uma porta-voz de relatos que exigiam a máxima imparcialidade, a não ser que quisesse ser acusada pelo editor de fazer juízo de valores. Aquele mundo escrito não era mais só dela, era compartilhado com leitores, telespectadores e ouvintes anônimos, aos milhares. E as palavras, ah, as palavras, continuaram sendo fiéis companheiras, mas travestidas de instrumento de trabalho. Sem figuras de linguagem, sem excessos, sem vírgulas fora do lugar. De vez em quando, um nariz de cera para ajudar a engolir um bocado seco de realidade, mas não bastava ser verossímil, tinha de ser verídico, sob a mira da ética profissional. Mas o que tornava esse labor fascinante, ainda que sem o perfume de outrora, eram os personagens que davam vida a cada narrativa e os acontecimentos que marcavam a história de muita gente, e precisavam ser contados. Ela já não mais era protagonista dos fatos que narrava, mas testemunha ocular da história. Sem demagogia. Fatos políticos, dramas sociais, tragédias, histórias de superação, grandes eventos, políticas públicas, descobertas científicas, relações internacionais, acordos multilaterais, crises e marolas. De tudo, um pouco. E no meio do todo, aquele universo particular bem guardado, com a mesma essência, o mesmo faro, a mesma paixão que há muito desenvolveu pelas palavras, por cada significante e significado. Paixão que não se perdeu com o tempo, não esfriou, mas ganhou traços de maturidade. Às vezes, a jornalista sente falta daquela menina, das frases bobas e travessas. Da letra arredondada, mais caprichada que qualquer fonte de computador. Do sentimento que coloria aquelas páginas. Mas as palavras, estas, fieis companheiras, jamais deixarão de ser perfumadas.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Vida que acontece


Dá até para brincar com as palavras. Novidade de vida. Vida nova. Vida. Davi. É assim, meio sem eira nem beira, que narro o maior milagre que já me aconteceu. O de conceber um filho. Um pedacinho de mim, da gente. Bendito ventre que resolveu frutificar. E acolher o fruto desse amor. Estava eu na terra da rainha, correndo atrás da tocha paralímpica, debaixo de chuva, carregando uma mochila nas costas e um microfone nas mãos. Tentando acompanhar a maratona dos atletas heróis, muitos cegos ou cadeirantes, que desfilavam com a gloriosa chama dos Jogos de Londres 2012. No meio do caminho, paro para gravar uma passagem para a reportagem da TV, sofro até um esbarrão, tamanha correria, mas sigo em frente, ofegante, coração a mil. Até aí, nada demais. Ossos do ofício de qualquer repórter. O lead dessa matéria era outro. Mal sabia eu que já saíra de casa embalando um microscópico embrião, que me acompanhava nessa árdua cobertura. Descobri no hotel londrino, na Grosvenor Square, três dias depois de ter saído do Brasil. Uma pulga atrás da orelha e uma farmácia do outro lado da rua foram a combinação perfeita para encorajar o teste. Afinal, foram nove meses de tentativas. Ao ver rapidamente o segundo tracinho vermelho do exame aparecer, confirmando que eu não estava mais só, a sensação foi um misto de surpresa, felicidade, preocupação, emoção. Sentimentos nada óbvios naquele momento totalmente novo, que revelava o desejo guardado de ser mãe. Depois de algumas lágrimas e palavras de gratidão a Deus, criador da vida, respirei fundo e comecei a pensar como contaria a boa nova estando tão distante do mais novo pai que também se revelava. Sempre fantasiei esse momento ao vivo e a cores, para ver de perto a reação, a cara, o misto de sensações dele, que certamente se confundiriam com as minhas. Mas não poderia esperar mais dez dias para contar, quando voltasse para casa. Era uma notícia quente, necessária, urgentíssima. Telefonei. Ele estava rodeado de pessoas, participando de um ensaio, e apenas pedi que quando chegasse em casa me retornasse. Queria que fosse um momento só nosso. A distância já era obstáculo suficiente. Nada de ruídos, de barulho, ele me retornou a ligação mais tarde do silêncio do nosso lar e pedi a ele que se sentasse. Você vai ser papai! Falei com a voz embargada. Via Embratel, senti dele todo aquele misto de emoções já esperadas. Lágrimas aqui e lá. Foi assim a notícia. Nos dias seguintes tive que conciliar trabalho e emoção. Acionei o seguro viagem, fiz exames na capital inglesa, ouvi do médico que ele não conseguia enxergar ainda o embrião. A afirmação nos deixou atônitos, como bons marinheiros de primeira viagem. Mas assim que voltei para o Brasil, repetimos juntos o exame e lá estava um coraçãozinho, envolto num ser que media apenas dois milímetros, batendo, irradiando vida. Poucas semanas depois, um exame de sangue para confirmar o sexo. Eis que descobríamos o Davi, nosso filhão. Nome escolhido desde a infância pelo pai, que pulou de alegria ao ler MASCULINO no resultado. A mãe, essa que vos fala, desandou a chorar, não de tristeza, mas mais uma vez de emoção. Era hora de revelar tudo aos familiares e amigos. Era hora de mudar rotinas, cuidar mais de mim, organizar a casa, abrir espaço para o mais novo morador, que em breve chegará. Hoje ele pesa quase um quilo e mede enormes 35 centímetros. Os chutes e cambalhotas são frequentes. Mais uma sensação reveladora. O quarto está quase pronto, mas pronto mesmo está nosso coração para viver novas surpresas, sensações, emoções que certamente virão a galope. Coração sempre grato por tudo o que já aconteceu até aqui. Estive ausente do Caso Antigo, mas hoje volto falando da vida que acontece dentro e fora de mim. Que 2013 traga novos títulos e posts. Até lá!