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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Vida que acontece


Dá até para brincar com as palavras. Novidade de vida. Vida nova. Vida. Davi. É assim, meio sem eira nem beira, que narro o maior milagre que já me aconteceu. O de conceber um filho. Um pedacinho de mim, da gente. Bendito ventre que resolveu frutificar. E acolher o fruto desse amor. Estava eu na terra da rainha, correndo atrás da tocha paralímpica, debaixo de chuva, carregando uma mochila nas costas e um microfone nas mãos. Tentando acompanhar a maratona dos atletas heróis, muitos cegos ou cadeirantes, que desfilavam com a gloriosa chama dos Jogos de Londres 2012. No meio do caminho, paro para gravar uma passagem para a reportagem da TV, sofro até um esbarrão, tamanha correria, mas sigo em frente, ofegante, coração a mil. Até aí, nada demais. Ossos do ofício de qualquer repórter. O lead dessa matéria era outro. Mal sabia eu que já saíra de casa embalando um microscópico embrião, que me acompanhava nessa árdua cobertura. Descobri no hotel londrino, na Grosvenor Square, três dias depois de ter saído do Brasil. Uma pulga atrás da orelha e uma farmácia do outro lado da rua foram a combinação perfeita para encorajar o teste. Afinal, foram nove meses de tentativas. Ao ver rapidamente o segundo tracinho vermelho do exame aparecer, confirmando que eu não estava mais só, a sensação foi um misto de surpresa, felicidade, preocupação, emoção. Sentimentos nada óbvios naquele momento totalmente novo, que revelava o desejo guardado de ser mãe. Depois de algumas lágrimas e palavras de gratidão a Deus, criador da vida, respirei fundo e comecei a pensar como contaria a boa nova estando tão distante do mais novo pai que também se revelava. Sempre fantasiei esse momento ao vivo e a cores, para ver de perto a reação, a cara, o misto de sensações dele, que certamente se confundiriam com as minhas. Mas não poderia esperar mais dez dias para contar, quando voltasse para casa. Era uma notícia quente, necessária, urgentíssima. Telefonei. Ele estava rodeado de pessoas, participando de um ensaio, e apenas pedi que quando chegasse em casa me retornasse. Queria que fosse um momento só nosso. A distância já era obstáculo suficiente. Nada de ruídos, de barulho, ele me retornou a ligação mais tarde do silêncio do nosso lar e pedi a ele que se sentasse. Você vai ser papai! Falei com a voz embargada. Via Embratel, senti dele todo aquele misto de emoções já esperadas. Lágrimas aqui e lá. Foi assim a notícia. Nos dias seguintes tive que conciliar trabalho e emoção. Acionei o seguro viagem, fiz exames na capital inglesa, ouvi do médico que ele não conseguia enxergar ainda o embrião. A afirmação nos deixou atônitos, como bons marinheiros de primeira viagem. Mas assim que voltei para o Brasil, repetimos juntos o exame e lá estava um coraçãozinho, envolto num ser que media apenas dois milímetros, batendo, irradiando vida. Poucas semanas depois, um exame de sangue para confirmar o sexo. Eis que descobríamos o Davi, nosso filhão. Nome escolhido desde a infância pelo pai, que pulou de alegria ao ler MASCULINO no resultado. A mãe, essa que vos fala, desandou a chorar, não de tristeza, mas mais uma vez de emoção. Era hora de revelar tudo aos familiares e amigos. Era hora de mudar rotinas, cuidar mais de mim, organizar a casa, abrir espaço para o mais novo morador, que em breve chegará. Hoje ele pesa quase um quilo e mede enormes 35 centímetros. Os chutes e cambalhotas são frequentes. Mais uma sensação reveladora. O quarto está quase pronto, mas pronto mesmo está nosso coração para viver novas surpresas, sensações, emoções que certamente virão a galope. Coração sempre grato por tudo o que já aconteceu até aqui. Estive ausente do Caso Antigo, mas hoje volto falando da vida que acontece dentro e fora de mim. Que 2013 traga novos títulos e posts. Até lá!

2 comentários:

  1. Que lindo! Você me emocionou em plena sala de cinema...
    Cousas DaVida!

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  2. Nossos filhos, milagres de Deus...

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