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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Resumo da ópera

Chegada à África

Meu amado regente costuma dizer que a primeira e a última nota da música são as mais importantes. Precisam ser precisas, afinadas, mais que corretas, bonitas. Mas o caminho a percorrer entre elas é diverso, cheio de altos e baixos. Notas longas, de perder o fôlego, ou curtas, stacatas. Semibreves ou semicolcheias. E, às vezes, é preciso silenciar. As pausas estão ali pra isso. Um descanso necessário, em meio a tantos acordes. Com este prelúdio, quero dizer que a minha primeira impressão da África foi uma nota de tirar o fôlego, de uma beleza árida e complexa. Com uma pausa no sono, decidi abrir a janela do avião na hora exata em que ele chegava ao continente. Com olhos não mais sonolentos, mas deslumbrados, vi o primeiro deserto da minha vida, o Kalahari. O oposto da fartura, uma desconcertante escassez. O silêncio nos acordes me acordou de vez para essa nova realidade. Foi o rito de passagem da primeira nota para uma melodia inédita e cheia de contrastes. Da moda careca da mulher africana ao turbante do jornalista indiano que veio pautado pelo mesmo IBAS. Iniciais de Índia, Brasil e África do Sul, que se uniram há alguns anos para tentar amenizar justamente os contrastes sociais. Mas o que mais me chamou atenção neste lugar não foi a Cúpula, com seus infindáveis protocolos, e sim os tons e semitons desse cenário multicultural, que despertaram ainda mais o meu senso de cidadã do mundo, ainda que jamais tenha pisado em Nova Iorque. Foi um curtíssimo tempo, eu diria staccato, para ter impressões mais profundas. Mas só de pisar nas ruas da África do Sul, conhecer de perto algumas raízes brasileiras, brincar uma tarde com um filhote de leão, ver mais uma parte da criação de Deus, esbarrar com um rinoceronte iluminado na decoração de Natal do shopping e com a estátua gigante do Nelson Mandela, num país que há pouco tempo passou pelo absurdo regime de segregação racial do Apartheid, já valeu todo o esforço desta cobertura. A música começou com a pausa silenciosa do deserto para logo evoluir para virtuosos compassos. E antes que haja um contratempo, eu, como uma legítima contralto, encerro essa melodia com uma nota inspirada. Não um Dó, ou um Mi, mas um Sol, que de fato nasce para todos, indiscriminadamente, e ilumina toda essa rica oportunidade que tive, esperando que um dia haja um Ritornello. E como num Requiem, me despeço dessa terra colorida de jacarandás com um sonoro Amém.

Ruas floridas de Pretória - África do Sul

À esquerda, jornalista africana, e à direita, indiano. Diversidade.

3 continentes, 3 emergentes, 3 poderes: IBAS
Experiência inesquecível

Amolando os dentes no meu tênis

Foi nessa hora que levei a inevitável unhada

O pai do Simba
Nelson Mandela Square - Johannesburgo

Ao invés de renas, rinos.

Mais surpresas no shopping
E o último pôr do sol na África.
  

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