Foi amor à primeira sílaba. Quando descobri as orações e períodos, os textos e contextos, então, nem se fala. Me apaixonei perdidamente. Paixão por contar a vida, por imortalizar os fatos, por narrar um cotidiano nada previsível. Esse é o caso antigo que mantenho firme desde que me revelaram este tão nobre ato de escrever.
Quem sou eu
- Ana Gabriella Sales
- Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Mão de Mãe
Quando mais precisei, lá estava ela. Quando chorei, quando sorri, quando falhei, tropecei e caí, lá estava ela. Estendida, incansável, forte, segura, reconfortante. No cafuné para eu dormir, na massagem com Vicky Vaporube para eu sarar, na palmada, rara, para eu aprender, no carinho para eu amar. Amar e admirar cada gesto, motivado pela dádiva de se dar. E haja gestos, inumeráveis. Estava ali para mexer o mingau de Cremogema que eu tanto gostava, para fazer aquela couve-flor empanada que sou apaixonada, para esticar o cobertor de uma criança chata com eu, que não queria uma ruguinha sequer. Ela estava lá para também ir à luta diariamente, para datilografar na velha máquina de escrever, aquelas reportagens que viraram muitas manchetes. Furos que lhe renderam espaço e admiração no meio. Nas horas vagas, costumava escrever poesias, também cheias de inspiração. Mas ela se multiplicou por mais duas iguais a mim. Com a mesma força, mesmo amor, mesma entrega, mexeu leite com Nescau na caçarola, colocou em centenas de mamadeiras, levou para escola, carregou a mochila, ajudou a fazer dever de casa, segurou as pontas, todas elas, muitas vezes, sozinha. Também se multiplicou por outras vidas que dela precisaram, e ainda precisam. Avó, avô, tio, tia, sobrinho, sobrinha, cunhada, neto. Lá está ela suportando o peso das situações, que não são das mais fáceis, ou apenas disposta a acariciar, a segurar firme e não mais largar. Esta é a trajetória de quem já cultivou vários jardins coloridos nos caminhos por onde passou, já regou de lágrimas muitas noites mal dormidas, e já as secou. Já regeu uma orquestra de problemas buscando todas as soluções. Já escreveu e ensinou lições de cidadania, lições de vida, lições de amor. Sempre com a paciência, a doçura e a tolerância que lhe são peculiares. Apresento a vocês a mão. A mão de mãe, de minha querida mãe, que afaga até hoje os meus anseios e acalenta meus devaneios. Quero segurar nela e nunca mais largar.
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