Quem sou eu

Minha foto
Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Janelas


– Janela, por favor – Solicitei no balcão de check in. Não me importo de enfrentar a claustrofobia das poltronas apertadas. O que quero é olhar o céu, as nuvens, a névoa seca, os caminhos que o homem traça no meio do nada, os rios que cortam esse caminho. Do alto, consigo enxergar como somos pequenos diante dessa imensidão. E quando cansar, recosto a cabeça na janela e sonho com a chegada a um lugar desconhecido. Lugar que estará depois desse céu, dessas nuvens, dessa terra. Mas já sei, como de praxe, que o piloto vai interromper o meu sono subitamente com informações meteorológicas. Boa tarde, senhores passageiros... Nesse momento, nota-se que algumas pessoas pulam na poltrona, tamanho o susto. Uma delas sou eu. Depois de saber inutilmente a velocidade da aeronave e a quantos pés de altura estamos, em português e inglês, volto a olhar pela pequena janela. A cidade começa a se aproximar. Se o destino fosse Salvador, já veria o mar. Colírio para os olhos. Mas dessa vez, uma cidade seca. Cercada por vários focos de incêndio em plena floresta amazônica. Se eu não estivesse na janela, perderia tudo isso. Aterrissamos. 40ºC. Sensação térmica: 45ºC. Garganta e olhos intoxicados pela fumaça. Chegamos em Porto Velho, para mim, novo. Da janela do carro vejo um pouco da face do norte do país. Rodando atrás de um hotel. Da janela do hotel vejo uma pizzaria. É lá que vou matar minha fome durante essa estadia. Cinco dias depois, volto ao aeroporto. Janela, por favor. Não tinha, só meio e olhe lá. Precisei me espremer entre duas poltronas, sem janela, sem paisagem, com uma revista que já havia lido até de trás para frente. Quem mandou esquecer de levar um livro... Fecho os olhos e só abro na chegada. Roubo um pedaço da janela da passageira ao lado, sem que ela perceba, e vejo a estufa cor-de-rosa que Brasília se torna nesse inverno seco. Não dá nem para identificar seu traçado, suas asas. Tamanha a névoa. Tamanha também era minha saudade de olhar da janela de casa. De janela em janela, o tempo vai passando, o vento vai soprando, e dando nova forma às nuvens e à vida que se esconde atrás da janela da alma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente