Sou do tempo em que a EPTG era uma
linda alameda de eucaliptos, com um ar puro e fresco, sem
trânsito caótico, sem pardal, sem viaduto. Uma linha reta, pra ir e
voltar de Taguatinga, sem Águas Claras no meio. Vicente Pires também
era apenas parte da paisagem, com alguns chacareiros e produtores
rurais, sem sobrados, mini-prédios ou buracos na pista. Só
estradinhas de terra ali pelo meio. Também sou do tempo em que o
Sudoeste era um imenso canteiro de obras. Uma parte obscura em frente
ao Parque da Cidade, com estandes de vendas que se espalhavam pelo
meio do caminho. Por falar em Parque da Cidade, ele tinha um portão
de ferro nas principais entradas, que era fechado de vez em quando.
Os jardins e as lindas fontes da Praça das Fontes eram um paraíso
para a criançada e instigavam a imaginação e muitas brincadeiras.
Hoje estão abandonados. Mas o foguete do parquinho Ana Lídia
continua lá, ainda bem. Vai continuar fazendo parte da história de
muita gente. Nesse passeio pelas ruas de Brasília e pela memória,
também recordo do prédio fantasma que ficava ao lado do Venâncio
2000. Uma estrutura de lajes cor de concreto ao lado de uma grande
descida para as docas. Hoje é o Pátio Brasil. E o Brasília
Shopping? Esse não existia nem no papel. Ah, o ParkShopping, esse
era um recém-nascido, pequeno, aconchegante, sempre com vaga no
estacionamento, também pequeno. A decoração interna não era de
orquídeas, mas de pequenas árvores. Ao invés de HotZone, a
cobiçada Divertilândia. Tinha também a Mesbla. Nada de Renner.
McDonald's também era um só. E a pipoca do cinema ainda tinha preço
de pipoca. Na área externa, sempre aterrissava o Ita ou o
Playcenter, alegria da molecada. Estes sim, davam filas quilométricas
nos brinquedos, especialmente na novidade que era o Kamikaze. Para
não ser injusta, cito o Conjunto Nacional, com a fachada sempre
colorida e iluminada, isso não mudou (só a forma), e as Lojas
Brasileiras e Pernambucanas no térreo. Continuando a viagem no
tempo, a Praça dos 3 Poderes era point das famílias no fim de
semana, munidas de milho para os pombos e para os patos que ficavam
no espelho d'água atrás do Congresso. As cúpulas da Câmara e do
Senado também não eram isoladas, para a alegria do povo. Ganhava
quem escalasse mais alto a do Senado. Indo um pouco mais longe, os
condomínios do Colorado eram apenas demarcações de lotes, a preço
de banana. Nada de comércio organizado por ali. Casas, só na
planta. Bom, esquina ainda não tem por aqui. E quando parece que
tudo mudou, vem o Noroeste, um sem número de condomínios lá pro
lado do Jardim Botânico e um Mangueiral onde não se avista uma
mangueira sequer. Ainda há muito para lembrar e para mudar. Mas isso
fica para uma próxima. Por enquanto, a única certeza é que, sim, estou
ficando velha. Nem a querida kombi, tão comum nas largas avenidas de
Brasília, resistiu ao tempo, que passa para todos. E se relembrar é
viver, vivo feliz com meus 30 anos de Brasília. (Em breve Velha, eu? parte 2)