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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pompa e circunstância


Foto: Folha.com
Há uma semana não se fala em outra coisa. A agenda setting da mídia esteve tomada por um assunto tão real quanto um conto de fadas. Real não de realidade, mas de realeza. E nós, republicanos e plebeus, acompanhamos daqui como se estivéssemos assistindo a mais um desenho da Disney. A princesa e seu príncipe encantado. A rainha má, o sogro traidor. Eu dizia que seria o casamento da lady Kate. Mas para a inglesa, apesar de plebeia, "não lhe faltava-lhe o glamour", como o jargão da comediante brasileira. Convenhamos que a princesa é, de fato, linda e glamourosa. A jovem que caiu na graça do povo agora vai viver a eterna disputa dos paparazzi. Aqueles mesmos que ajudaram a abreviar a vida de sua sogra. Mais um capítulo da monarquia inglesa começa. Me lembro do plebiscito para definir se o Brasil seria monarquia ou continuaria com o regime republicano. A maioria esmagadora votou na república, sem dar ouvidos à campanha 'Vote no Rei', de resquícios da família imperial. Fico imaginando quem seria o rei de mais de 190 milhões de súditos. Mas isso ficou só na minha lembrança de infância. Não nos caberá esta história. E eis a dica para todos, republicanos ou não, plebeus, cidadãos: Casamento bonito é casamento feliz. A despeito de toda pompa, a circunstância é o amor.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Histórias made in China


A viagem à China foi reveladora em todos os sentidos. Pela primeira vez, adiantei 11 horas do meu relógio. Literalmente viajei no tempo, como que de volta para o futuro. Um futuro que eu acreditava estar tão distante, e estava. 22 horas de vôo, 30 horas de viagem no total. Eis o primeiro desafio a vencer. Às 6h30 da manhã de sábado chegamos a Beijing. Ideogramas por todos os lados queriam me dizer alguma coisa. Queriam me alertar que eu estava do outro lado do mundo. Que meu alfabeto era insuficiente para compreender esse universo infinito da escrita chinesa. E eu, respeitosamente, tive que abdicar do meu caso antigo com as palavras para viver uma aventura de novos significados. Estar na China para mim significava mais que uma experiência inédita, uma oportunidade para a vida e para a carreira.



Dia 1

No primeiro dia, não vi o céu da cidade. A poluição e a areia vinda da Mongólia se encarregaram de encobri-lo. Mas por trás da névoa, era possível visualizar uma metrópole gigante. Avenidas gigantes, prédios gigantes, engarrafamento e por aí vai. Tudo muito limpo e moderno. No trânsito, carros, bicicletas e gente se entendiam em meio às buzinas. O prédio da CCTV, a TV estatal chinesa, foi o que mais me chamou atenção neste primeiro momento, pela arquitetura ousada. Uma hora até o hotel. Lá nos acomodamos e fomos fazer um reconhecimento da área. O cansaço era grande, mas nada de dormir, pois a equipe precisava se adaptar ao fuso horário. Vale ressaltar que todos os dias em Pequim fomos assessorados pela nossa intérprete Vitória, uma chinesa de 21 anos muito querida, que estuda português na faculdade e vai trabalhar no Brasil por 4 anos a partir de 2012. Fofa é uma das palavras que a definem, além de muito prestativa, eficiente e simpática. Neste dia aproveitei para conhecer logo a Cidade Proibida. Morta de sono, só andei até o pavilhão do palácio principal do imperador, onde ele vivia com as 3 mil concubinas... Saí de lá quase guinchada pela Vitória. Nem consegui atravessar a rua para a praça da paz celestial, aquela onde ocorreu o massacre em 1989. Para almoçar, restaurante brasileiro. Nada melhor para enganar o coração, que começava a manifestar os primeiros sintomas de saudade. Mas ainda havia muito chão pela frente. Muito mesmo. Até 19 horas de trabalho por dia com direito, muitas vezes, a apenas uma refeição. Só 3 ou 4 horas de sono e muitos deslocamentos. Afinal, foram 4 cidades, de norte a sul da China. Isso tudo repleto de dezenas de acordos bilaterais, anúncios de investimentos bilionários de multinacionais, discursos e mais discursos, em russo, chinês, inglês e porque não, o português da presidenta. Tudo devidamente registrado em offs para TV e rádio e passagens gravadas com ajuda de muita maquiagem para disfarçar as olheiras. Esta viagem me fez ver como minha saúde estava em dia, senão talvez não agüentaria este batente. Mas tenho certeza de que Deus me sustentou em todos os momentos, que conto um pouco a seguir.

Prédio da CCTV ao fundo. Quem dera que a EBC fosse assim...

Flashes da Cidade Proibida

Flashes de Pequim
Dia 2

Neste dia dei outro giro pela cidade e descobri, mais descansada, algumas manias chinesas. Pigarrear, escarrar e cospir no chão é uma delas. Não que os homens no Brasil também não façam isso, mas lá é demais. O próprio taxista limpava a garganta toda hora e cospia pela janela. Os taxistas também fumam dentro do carro. Como a minha amiga Marcia Chang já tinha me alertado, parece que todos os homens chineses fumam. E os guardas chineses são intragáveis. Se eles dizem não é não e não adianta tentar argumentar. Agora a parte boa. Lá as pessoas ainda andam muito de bicicleta, principalmente aquelas elétricas. Os chineses também gostam da cidade toda iluminada à noite. Prédios, árvores, fachadas, tudo muito colorido. Além de muitos telões pelas ruas. E duas das coisas que mais me agradaram: água mineral de graça no quarto do hotel (duas garrafinhas por dia) e os bancos abrindo de domingo a domingo, de 8h da manhã às 17h. O Brasil podia copiar isso, não? E pelas ruas, verdadeiros empórios de muitas marcas famosas, totalmente originais, de Dolce & Gabbana a Adidas e Apple, a despeito das falsificações que encontramos no Mercado da Seda. Ah, as passarelas em Pequim também têm escada rolante. Uma ótima ideia que também agrada aos preguiçosos ou cansados de tanto andar, como eu. Mas o dia estava só começando. Às 17 horas de pleno domingo tinha reunião marcada no hotel da presidente com o pessoal do Itamaraty. Fomos pegar as credenciais e detalhes da cobertura e nos deparamos com um briefing de uma hora do ministro Mercadante, aliás, o que mais falou nesta viagem. Lá encontrei os colegas guerreiros de todos os veículos, que também entrariam nessa jornada. Sem hora para comer, dormir, mas com hora certa para estar a postos no ônibus da imprensa, senão seria impossível driblar a segurança. Acho que esta foi a última noite que consegui dormir 8h seguidas. Depois, caiu pela metade.

À direita, passarela com escada rolante.

Percebi que se eu fosse narrar aqui dia a dia, ninguém teria paciência para ler. E longe de mim deixar o leitor do blog cansado desta maratona como eu fiquei, então recorro às fotos.

Sanya – o 'Havaí' chinês


Depois de 3 horas de vôo, Chegamos a Sanya, na província de Hainan, ilha no sul da China, mais conhecida como o Havaí chinês. O aeroporto ficava distante em 1 hora do local onde ainda tinha que pegar a credencial (mais uma). Depois de mais um briefing de uma hora, fomos liberados 23h para ir para o hotel, sem jantar, claro. Chegando lá me deparo com um resort chiquérrimo, um apartamento maravilhoso, com uma banheira maravilhosa e quem disse que podia aproveitar? Não. Tinha que mandar matéria.


Mas a propósito, você já foi a uma cidade de praia e não viu a praia? Comigo foi assim. Vi de longe, e registrei em foto, porque era impossível sair do quartel general, digo, do resort onde acontecia a cúpula dos BRICS. O comitê de imprensa foi nossa acomodação por um dia. A última coletiva acabou 22h30 e lá fui de novo para meu hotel chiquérrimo, confortável, maravilhoso, sentar na mesa de computador e mandar matéria. Será que essa foi a vida que escolhi? Acho que quando o calo aperta, os colegas fazem essa pergunta, afinal, todos, sem exceção, estavam arrasados. Resumo da história: posso entrar para o Guiness: dormi às 3h para levantar às 5h e estar no lobby do hotel às 6h. Rumo a Bo’Ao, cidade a duas horas de Sanya. Como aquele repórter que sobreviveu ao tsunami no Japão, eu sobrevivia à enxurrada de trabalho.

Os sobreviventes
O exército de Xi'an
Em Bo’Ao a passagem foi relâmpago. Só entramos e saímos do hotel do Fórum Econômico, rumo ao aeroporto para seguir para Xian, a cidade mais poluída que tenho notícia! Cheiro insuportável e uma névoa espessa que provém da queima de carvão, fonte de energia da cidade. Mas ainda bem que foi só um dia, rumo à oitava maravilha do mundo que está lá. Foi impressionante conhecer de perto os guerreiros de terracota, um dos maiores sítios arqueológicos do mundo. Melhor mostrar que falar.



Xian
 A Grande Muralha
A volta para Pequim foi no mesmo dia, e me convenci que a guerreira, não de terracota, mas de carne e osso, era eu. Já haviam se passado 10 dias de peregrinação e cobertura. Agora só me restava agradecer a Deus por tudo ter dado certo e aproveitar o restinho de tempo para conhecer mais uma maravilha do mundo, é claro, a Grande Muralha, the Great Wall. Vitória, que já virou minha amiga, foi a companhia desta missão fantástica. Escolhemos o trecho de Badaling, onde tem um teleférico para ajudar na subida, e que subida! Meus olhos quase não acreditavam no que estavam vendo. A única pergunta que me vinha a mente era: como seres humanos foram capazes de construir uma coisa gigantesca dessas? Afinal, são quase 9 mil km de extensão, cuja construção se arrastou por séculos, desde 220 a.C, diz a história.

Um pedacinho desta grandiosidade

Teleférico nas alturas
Vista impressionante
Por fim, uma passadinha no Mercado da Seda. Descobri que aquele velho slogan da Casas Bahia "Quer pagar quanto?" veio de lá. Sim, porque eles te seguram enquanto você não diz quanto quer pagar. Funciona assim: Você chega, pergunta quanto custa certo produto e eles escrevem na calculadora o valor, por exemplo: 850,00. Daí você fala que está caro e eles vêm com a pergunta da Casas Bahia. Você responde: 50,00. Eles dizem que esse preço é barato demais. Você agradece e vira as costas. Imediatamente o vendedor fala: Fechado! 50,00. Pode levar! Essa tática oriental me pegou de surpresa. Foi a maior barganha da minha vida! Bom, essas são um pouco das minhas lembranças Made in China. Ainda estou me recuperando do cansaço. Mas a trilha sonora para essa incrível aventura pode ser: "Valeu a pena ê ê, valeu a pena..."

I climbed the Great Wall!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mundo velho, mundo novo

Chegou a hora. Malas prontas, mochila made in China, e tudo o mais. Daqui a pouco embarco para este mundo velho, para mim, totalmente novo. A má notícia é que não vou poder atualizar o Blog até a volta, lá pelo dia 19, porque uma amiga me lembrou que lá todos os produtos Google são bloqueados. Se eu achar uma brecha, quem sabe! Mas pretendo postar as fotos assim que possível. Obrigada pelo carinho e apoio de todos nessa empreitada, especialmente meu amor e minha amora (mãe)rsrs. Não vai ser fácil, mas vai ser inesquecível. Faço uma escala em Paris e depois de um total de 30 horas lá estarei do outro lado do mundo. Mundo velho, mundo novo, mundo grande... Tudo indica que devo passar por quatro cidades: Pequim, Sanya, Bo Ao e Xian. Vou com a cara e a coragem. Não temo, creio somente.

Até mais!

sábado, 2 de abril de 2011

China, aí vou eu!


No ano passado, ganhei da minha mãe de aniversário um livro que narra as histórias de uma repórter brasileira na China. Mas eu jamais imaginaria que dentro de 11 meses esta repórter seria eu. Eu, Laowai, estrangeira na grande República Popular da China. Recebi a notícia desta 'missão especial' por telefone em meados de março e o embarque já é semana que vem. Muita coisa para planejar, aprender, apurar, pesquisar. Afinal, não é todo dia que se vai ao outro lado do mundo. Na bagagem, meu maior desafio profissional até então. Na cabeça, mil e uma expectativas, responsabilidades, check lists. Esta noite, mal consegui dormir com tanta coisa borbulhando na mente. Já estava entrando pela madrugada daqui como se estivesse em plena luz do dia lá. Vou a Pequim cobrir a que até agora é considerada a visita de Estado mais importante da presidente da república. Não é por menos, já que a China se tornou a maior parceira comercial do Brasil. Aliás, ela é maior em tudo, em população então, nem se fala. Serei apenas mais uma formiguinha em meio a 1 bilhão e 300 milhões de habitantes. Nem acredito que estarei bem perto da grande muralha, do ninho do pássaro, da cidade proibida. Mas tenho certeza de que com com Deus à minha frente, me guiando e capacitando, vou vencer mais este desafio. E depois de enfrentar mais de 30 horas de viagem, certamente abdicarei daquela ideia de que o mundo é pequeno. Porque não é. Nós é que somos. Espero encurtar esta distância contando aqui do blog as experiências em Beijing. Até lá!