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Jornalista, casada e amante das palavras. A pernambucana mais brasiliense de todas.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pernambucanas

Caetés, Garanhuns e Palmares. Este vai ser meu itinerário pernambucano nos próximos dias. Algumas centenas de quilômetros de carro e muita disposição na bagagem. Além de casaco e cachecol, pois em Garanhuns faz frio, oxente! Lá acontece a 20ª edição do FIG - Festival de Inverno da cidade. Em Caetés, por sua vez, vai ser lançado o programa Um Computador por Aluno, 'carinhosamente' chamado de UCA. Mais de 4 mil estudantes da pequena cidade onde o presidente nasceu vão receber um netbook semelhante a este, do qual estou 'blogando' agora. Bem, a última parada certamente será a mais marcante. Vamos voltar a um dos municípios mais atingidos pelas enchentes há um mês. Lama, leptospirose, pessoas tentando retomar a vida que ficou sob os destroços, isso é o que devemos encontrar em Palmares, e que, por sua vez, deve se transformar em 3 matérias. Por hora, aguardo a partida aqui em Maceió, capital mais próxima de Garanhuns. Na volta da jornada pernambucana prometo ter um lead.

sábado, 17 de julho de 2010

Os Sabidos

O vento impune e o frio seco fariam daquela noite apenas mais uma igual a tantas outras de inverno. Mas há algo capaz de aquecer mais que qualquer casaco, gorro ou cachecol: a arte. Sabida como ela só, Verônica subiu ao palco com um blazer preto aveludado. A primeira música, acompanhada por Serginho no violão, já foi suficiente para a moça pendurar o blazer na cadeira e exibir uma blusa de paetês e alcinhas. A arte a aqueceu, e a mim também. Voz doce, poesia. Ela cantou o amor, a saudade, o tempo. E com a ajuda de palavras, histórias e memórias trouxe o pai de volta à vida naquele palco. Fernando é o nome dele, imortalizado não só pelas lembranças de família, mas pela obra que deixou para os filhos, netos e todos nós. Quem não leu ‘O Grande Mentecapto’ na escola? Pois é, ele foi o autor. Sabido esse Fernando. Verônica contou que além de escritor, ele também tocava bateria numa banda de jazz. Fora isso, talvez nas horas vagas, era roteirista de curtas-metragens. Era mesmo sabido esse Fernando, assim como a filha, irmã de outros cinco sabidos. Ela cantou e sarou os ouvidos gelados da platéia. Valeu a pena esperar os minutos de atraso. Logo em seguida, o pianista Wagner Tiso entrou em cena todo encasacado, por sua vez. Um lindo arranjo de ‘Eu sei que vou te amar’ inaugurou seu solo, que poderia ser interminável, segundo a aclamação da platéia. Por que parou? Paramos para rir um pouco com mais uma história sobre o irreverente Fernando. Segundo Tiso, o amigo, certa vez, exigiu que ele pusesse uma gravata para acompanhá-lo num evento em Nova York. O que Fernando apesar de sabido não sabia, é que a única gravata disponível naquele momento era do Mickey. E lá foram eles vestidos a rigor para algum canto chique de Nova York. Essa história me lembrou meu pai, também um tanto quanto irreverente, que saiu para trabalhar um dia com uma gravata do Piu-piu. Corajoso ele. Mas, histórias a parte, estávamos todos ali para ouvir música. E ela não deixou a desejar, ecoou bem alto no vasto jardim do CCBB. Noite boa aquela, onde o frio virou calor, onde a morte virou vida. Onde a herança de um pai artista deu o tom às canções da filha. Essa é a sabida família Sabino.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Umidade relativa, bem relativa

Sorridente, a garota do tempo anuncia: 'Céu claro, temperatura mínima de 17 e máxima de 26 graus na tarde desta sexta-feira. Umidade relativa do ar fica em 34%'. Clima e paisagem desérticos invadem a capital nessa época. Canteiro central da esplanada vira palha de fácil combustão. Céu azul sem nuvens, mas com grandes borrões de poeira. Sol de escaldar no meio da tarde e vento frio e seco durante a noite. Esses são recortes do cenário brasiliense nos meses de outono/inverno. Período em que nos assemelhamos às Vidas Secas de Graciliano. Peregrinos nesse sertão em pleno Planalto Central. Boca, olhos, pele, garganta, tudo seco, não fosse pela umidade relativa da emoção. Sim, lágrimas que brotam elevando a marca para 100%. Motivos não faltam. Elas vêm, gota a gota, molhar essa paisagem austera. Às vezes o choro vem em cascata, incontido, regando tudo ao redor para fazer brotar um renovo, um sorriso, um motivo para secar os olhos e prosseguir. O choro é necessário para desafogar a alma, o coração. Para ajudar a vencer a secura das circunstâncias e dos fatos. Para aumentar a umidade relativa do nosso ar. Ah, se aqui tivesse mar, talvez não fosse preciso chorar, só de alegria.

Pré-sal x Pressão

Acho que nunca passei tanto tempo dentro de um aeroporto na vida, nem nos tempos do apagão aéreo. Ontem cheguei às 9h ao aeroporto de Vitória, no Espírito Santo, pouco antes do presidente, que de lá partiria para um voo de 40 minutos rumo à plataforma da Petrobrás na Bacia de Campos, mais precisamente para o campo de Baleia Franca, no litoral capixaba. Lá, participou da coleta do primeiro óleo comercial da camada pré-sal. 13 mil barris por dia será a capacidade de produção. E até o fim do ano, 100 mil. Enquanto isso, eu permanecia no aeroporto, gravando stand up pra TV, gerando material. Ao invés do pré-sal, aquela pressão inerente ao nosso trabalho. Normal. Às 14h, o helicóptero do PR aterrissava de volta no aeroporto de Vitória. Pose para fotos com grupos A, B, C e D, e nós aguardando a coletiva que aconteceria, mas foi cancelada, já que ele resolveu falar ali mesmo, durante a sessão de fotos com a miniatura de um barril de petróleo nas mãos. Minha jornada estava quase no fim, antes teria apenas que apurar mais dados, pegar o quebra-queixo do governador do Estado, fechar texto, passar com editor, gravar passagem, offs, ir para o caminhão gerar. É, essa foi a vida que escolhi. Com ou sem pré-sal, é sempre pressão, corrida contra o tempo. Mas como a agenda foi adiantada, 16h15 o material já estava todo em Brasília, pronto para ir ao ar no rádio e na TV. Tarefa cumprida. Agora, ainda me restava esperar até 21h sentada no hall do mesmo aeroporto, quando finalmente decolaria de volta para casa. Só lamento não ter trazido um pouquinho do petróleo para entrar na briga pelos royalties. (rs) Bem que eu merecia, depois dessa jornada...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Play me, I'm yours

O nome é bem sugestivo, mas não é nada disso que você está pensando. Trata-se de um projeto, no mínimo, muito interessante, de um artista inglês que anda espalhando pelas ruas do mundo pianos para qualquer um tocar. Sim, um convite ousado. Toque-me, sou seu! Só em Nova York foram 60 instrumentos pelas calçadas este ano. Impossível ficar imune ao som dos pianos coloridos e ao convite indecoroso que eles fazem. Se estivesse lá, até eu tocaria  uma das duas pecinhas que ainda lembro de cor dos meus dois anos de aulas de piano. Bons tempos aqueles, a não ser pelas broncas da professora, quando eu não fazia os exercícios de escala e aparecia na aula com dedos enferrujados. Eu não tinha piano em casa para estudar, só meu saudoso teclado, que não é a mesma coisa. Mas isso não é desculpa. As portas da Escola estavam sempre abertas para os incansáveis, que se trancavam em uma das pequenas salas do bloco do piano para fazer dezenas de exercícios repetitivos, porém necessários. Eu não tive essa paciência. Mas admiro quem tem, além de tudo, o dom. Popular ou erudito, piano ainda é meu instrumento favorito. Rima boba, eu sei, mas é a mais pura verdade. Aliás, que saudades de ir a um concerto para ouvir a boa música. O último foi o Requiem da Copa, se assim posso chamar, mas a pianista, pasmem, faltou, e eles sequer puderam apresentar o Choral Fantasy, de Beethoven. Ficaram devendo. Se Brasília tivesse um piano espalhado por cada uma de suas inexistentes esquinas, certamente mais gente teria acesso a esse som maravilhoso, à cultura, ao prazer de dedilhar um instrumento. O artista inglês está de parabéns. Espero que traga de volta a ideia ao Brasil em breve, já que os chamados street pianos só deram o ar da graça em São Paulo em 2008.





Fotos do site oficial de Luke Jerram.

domingo, 11 de julho de 2010

Vida de vidro

Cair e quebrar. Talvez este seja o destino fatal de todas as taças de vidro ou cristal. Um dia elas escorregam da mão ensaboada, ou caem do armário, do nada, ou sofrem um desastrado esbarrão. Tão bonitas outrora, quando reluziam e ressoavam tons diversos. Agora, não passariam de cacos. Nada que o dinheiro não possa comprar de novo. Mas e quando uma vida é feita de vidro? Sim, sensível a qualquer aperto forte de mão, a qualquer movimento mal calculado, ou até a um pulo no chão. Esta semana assisti a uma matéria sobre a síndrome dos ossos de vidro. Rara, mas real. Duas meninas adoráveis, uma delas de quatro anos, frágeis como a mais fina porcelana. Alguns insistiam em dizer: 'sua filha vai a óbito', contou a mãe emocionada, mas ela estava ali, vencendo ano após ano, ainda num carrinho de bebê, sobrevivendo bravamente a esta situação. Certamente o destino dela não será cair e quebrar, mas fortalecer aos que a cercam, muitas vezes com ossos de adamante, porém com emoções de vidro, cheias de melindres. A missão desta linda garotinha talvez seja dizer ao mundo que é possível viver e sorrir, mesmo em meio às tribulações, que no caso dela, não são poucas. Seja jogar na nossa cara que quem transforma a vida em cacos somos nós, basta fazer escolhas erradas. Muito me ensinou aquela singela menina. Peço a Deus que a fortaleça a cada dia, e que ninguém ouse lhe dar um desastrado esbarrão.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Mil quilates

Fazia 9 graus. Mas o calor que vinha de nossos corações derreteria qualquer geleira. Sonho, luta, surpresa, realização, felicidade, entrega. A ordem dos fatores não altera o produto, que se chama amor. Chegar até ali foi algo grandioso, inesquecível, fantástico. Uma história que começara há 5 anos e meio e chegava a um desfecho tão nobre, o casamento. Desfecho que, na verdade, significava início. Início de uma vida nova, novíssima. Aliança maravilhosa criada pelo próprio Deus. Aliança denegrida por quem não conhece a Deus. Aliança de mil quilates de atitude, de escolha, de renúncia. Ah, o ouro. O ouro é apenas um detalhe, mas capaz de suportar vários arranhões, sol, chuva, e continuar brilhando, sem desbotar. Lá estávamos nós, trocando estas alianças pesadas pelo significado, mas leves como uma pluma, que acariciava nossa alma e produzia em nós um sorriso sincero, de um amor verdadeiro. Escolhemos escolher um ao outro. Escolhemos nos dedicar um ao outro. Escolhemos viver sucessos e dificuldades um com o outro, e por aí vai. Vai até que a morte nos separe, e a vida nos una a cada dia mais. Fazia 9 graus. Hoje, faz 5 anos.

Homenagem ao nosso aniversário de casamento. Beg e Gabi. A walk to remember.

Para inspirar quem ainda tem dúvidas, uma letra de Atilano Muradas:

Casar

(Atilano Muradas)

Casar é muito bom, você vai ver.
Não é um mar de rosas
Nem prisão.
Tem horas de paixão
Tem horas de sofrer.
Compensa, é bem melhor
Que a solidão.
Não tem que ser igual
Ao de seus pais.
Não tem que ser melhor
Que o de ninguém.
Só tem que ser vocês
Do jeito que Deus fez.
Cedendo um pouco aqui e ali.

Casar é muito bom, você vai ver.
Não é lua-de-fel, nem só xodó.
Tem horas de entender
Tem horas de prazer.
Contudo, é bem melhor
Que viver só.
Não tem que ser modelo
E perfeição.
Porém, dê todo amor
Que você tem.
Não deixe de dizer:
I love you, minha flor
Não deixe de zelar do seu amor.

Casar é muito bom, você vai ver
Quando se está disposto a crescer.
Tem hora de ouvir
Tem hora de falar.
Respeito e compreensão vão ajudar.
Casar é mais do que viver a dois.
Casar é aprender até morrer.
É ter um só Senhor
Viver prazer e dor.
Casar é investir no grande amor.

Casar. Casar é investir
No grande amor.
É, casar é investir
No grande amor.
Casar é muito bom
Quem vai querer?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Liquidando desafetos

Um homem mata outro num bar por motivo fútil. Em entrevista, o delegado afirma categoricamente que acredita apenas que o assassino liquidou um desafeto. Simples assim. Como se esta razão fosse plausível. Fiquei imaginando se toda a sociedade resolvesse liquidar seus desafetos desta forma, na base do tiro, da facada, do estrangulamento. Não seria surpresa, já que este mundo jaz mesmo no maligno, mas seria trágico.

terça-feira, 6 de julho de 2010

No meio do caminho

Voltava eu para casa a passos longos e rápidos, com pressa para tomar um belo banho e procurar algo para comer. Lá ia eu pela calçada, olhando para baixo, desprovida de qualquer intenção de parar. De repente, antes do próximo passo, um susto. No meio do caminho, do meu caminho. Olhei para um lado, para outro, estremeci por dentro, pesei minha consciência na balança e ela acusou uma tonelada. Talvez estivesse pesada pelo desvio que fiz na calçada, ou pela preocupação única e exclusiva que eu tinha com meu banho e meu jantar. Talvez pesasse pela constatação de que faço parte da maior parte que não quer fazer a sua parte. Redundante mesmo. Confesso que hesitei em desviar, mas desviei. Desviei assim como as três jovens donzelas que vinham atrás de mim. Fiquei observando de longe, quase voltei, mas optei por prosseguir. Agora já ia a passos lentos, sem pressa, indigesta. Porque o caminho nunca é tão previsível como se espera. No meio dele, naquela esquina mais improvável, pode haver uma pedra de tropeço. Mas muitos não tropeçam, desviam impunes como eu. Mas não faço alusão aqui à expressão latina mea culpa, mea maxima culpa. Afinal, trabalhei o dia inteiro e tinha o direito de querer chegar em casa, tomar banho e jantar. Nada mais natural. O que não é natural, nem aceitável, é que eu ou qualquer outro ser humano se ache superior a alguém que não terá a mesma chance de tomar um banho e jantar. Coisas elementares assim, mas que não fazem parte da rotina de alguns milhões aqui mesmo no nosso independente Brasil. Alguns sem destino andam, andam e de repente caem no meio do caminho, estatelados, zonzos. Como este, no meu caminho. Certamente não havia um chuveiro quente o esperando. Ou um prato de comida. Talvez apenas mais uma dose o aguardasse na próxima esquina, caso ele conseguisse chegar lá. Mas por que cargas d’água a gente rotula todo aquele que se estatela no chão de bêbado? Talvez bêbados sejamos nós, tontos de tanto girar em torno de nós mesmos, até cair numa cama quentinha e apagar. Talvez não queiramos enxergar que a maior doença do mundo pode ser a falta de amor por quem está de pé e por quem está caído. Mas, talvez, ele estivesse mesmo bêbado, deixando pelo caminho sua moral, sua identidade. O álcool o derrubou com uma rasteira quase que fatal. Triste cena. Triste sensação de impotência. Assim me senti naquela volta para casa. Ébria. E assim como Drummond, nunca me esquecerei desse acontecimento. No meio do caminho, um homem.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Voa, voa passarinho

Esse pedacinho da minha mãe ficou guardado em mim desde que ela o recitou pela primeira vez, eu devia ter uns 5 anos.

"Voa, voa passarinho.
Por que não queres voar no céu azul?
É tão bonito te ver voar pelas alturas.
É tão bonito te ver voar por sobre o mar!
As suas asas batendo em harmonia
E o seu canto se espalhando pelo ar
Oh, passarinho, porque não queres voar?"

Fátima Santos

Bolachões

“Queria fazer agora uma canção alegre, brincando com palavras simples boas de cantar” Milton Nascimento.

Das lembranças que tenho de meu pai, as mais doces, tristes e alegres estão naquela sua coleção de discos de vinil. Coleção variada, com o melhor da música brasileira e internacional. Gosto bom o do meu pai. E me intriga a história dos bolachões. Quando ele acordava alegre e empolgado num fim de semana, era naquele acervo da nossa estante que ele procurava a trilha sonora do dia. Quando estava triste e deprimido, também era lá que ele encontrava refúgio para traduzir seus sentimentos. Ah, os discos. Uma Legião não só Urbana, mas de todo canto, de todo timbre. Vinis para mim didáticos. Com o primeiro disco de Madonna fui capaz de aprender inglês, pasmem. Aos 12 anos de idade decorei diversas músicas, apesar do significado ter vindo só mais tarde. Também decorei Faroeste Caboclo, questão de honra para os adolescentes de 13 e 14 anos na época. Música para Acampamentos e trilha das escolas, mesmo as de freira, como a minha. Também conheci Milton Nascimento, e gostei, apesar das músicas dele terem, para mim, tom de nostalgia e saudade. Aquela que ele canta com um coral infantil em Minas Gerais era a minha favorita. Papai sabia disso. Às vezes ele se fazia de DJ. Era capaz de passar um dia inteiro nos embalando com sua música, sem parar. Mudava de faixa com destreza para não deixar a agulha arranhar o disco. Reduzia o volume de um quando ia partir para outro e dava um jeitinho de colocar bem rápido o vinil para que a troca ficasse quase imperceptível. Nada de tecnologia de vários discos no mesmo aparelho. Era um de cada vez, e cada vez, uma emoção. Porque música é emoção. Ela traduz perfeitamente uma noite de chuva ou uma manhã de céu sem nuvens. Traduz cada momento da minha vida. Quem é que não tem uma trilha sonora para cantar ou contar a própria história? Que falta me fazem aqueles discos, vendidos a preço de banana para um sebo qualquer da cidade. Perda incalculável e irreparável de algo que hoje seria meu maior tesouro, porque guardaria comigo um pedaço bem presente do meu pai.

Finitos

Ele não resistiu. Talvez cair do décimo andar não seja tão doloroso quanto ouvir esta frase. Ninguém fica imune diante da realidade dura, irremediável e intransigente que se chama morte. Ela não espera que se dê adeus. Ela não permite que se faça o último pedido. Ela, quando vem, vem. A morte é resistente aos apelos e lágrimas mais comoventes e comovidos. É irredutível, severa. Pior que qualquer ditador, mais cruel que qualquer tortura. Ela não dá outra chance, não brinca em serviço. A morte não faz promoção de ida e volta. É só ida, sem pechincha, sem acordo. E o preço, pela hora da morte, é imensurável, caríssimo. Quem paga a fatura são os que ficam, vivendo a saudade, saudade, mil vezes saudade de quem foi.

Este texto é dedicado ao meu querido pai, Amaral Sales, do qual não me despedi. A morte veio sorrateira no dia 05 de dezembro de 2006 e o levou de mim. Ele não resistiu.

domingo, 4 de julho de 2010

Como ficar de férias o ano inteiro

Será que já existe título tão sugestivo nas prateleiras de auto-ajuda? Se existisse algo como tal, talvez figurasse entre os 10 mais vendidos. Afinal, quem não quer ficar de férias o ano inteiro? Mas explico. Certa manhã, exatamente às 7h30, fomos a uma consulta, eu e meu marido. Chegando lá, o médico levou apenas alguns minutos para nos chamar ao consultório. Conversa vai, conversa vem, o gastro chegou até a desenhar um estômago para explicar com detalhes onde fica a tal da cárdia e o motivo do seu alargamento. Preciso dizer que, como desenhista, ele é um ótimo médico. Mas deu para entender o fundamental: os conservantes dos produtos que consumimos estão mudando até o funcionamento dos nossos órgãos. Isso me faz pensar que aqueles documentários sobre comida são mais sérios do que se imagina. Enfim, resultado é que terei que fazer a primeira endoscopia da minha vida e o meu marido terá que retornar ao consultório em 30 dias para ver se a dieta e o remédio para gastrite fizeram efeito. Mas o que isso tem a ver com férias? Nosso querido médico foi o autor da ilustre frase que me fez refletir. Quando perguntei se ele pretendia tirar férias em julho, data em que seria o retorno do meu marido, ele simplesmente disse: “Férias? Aqui estou de férias o ano inteiro!” Afinal, o que faz um médico que vive madrugando para atender pacientes que não sabem sequer onde fica a cárdia e tem que fazer o mesmo desenho exaustivamente para todos se sentir de férias? Que toda semana vê sangue, abre e fecha pessoas, lida diariamente com a doença e os doentes, com perdas e danos? Sim, em resumo, ele ama o que faz. Porque quem ama não vê o tempo passar, não faz caso de ficar além do horário, tenta contornar as situações adversas com bom humor, simpatia e cordialidade. Bem, pelo menos, deveria ser assim. E nós? Amamos o que fazemos? Fazemos o que amamos? Nos sentimos de férias vestindo a roupa para ir trabalhar? Quem sabe um dia eu chegue a este nível. Quem sabe eu troque as murmurações pela singeleza de pensar que meu trabalho é como um cruzeiro. Uma viagem agradável e inesquecível. Se as pessoas encarassem a vida assim, certamente teriam menos gastrite nervosa, fariam menos endoscopia, e dariam mais férias aos gastroenterologistas.

Requiem do Brasil na Copa

Sexta-feira, 02 de julho de 2010. Data fatídica para o futebol brasileiro. Fatídica por que o assunto aqui é levado a sério. Fuga do trabalho e das preocupações. Afinal, quem se lembra dos danos da enchente no Nordeste durante os 90 minutos cruciais para uma classificação na semifinal? Até o presidente para a agenda e veste a camisa. Aliás, neste dia ele estava embarcando para o giro no continente africano. Pena que a final que ele assistirá não terá verde-amarelo. Quando a Holanda virou o jogo, a esperança, que costuma ser a única que morre, morreu e foi enterrada junto com o hexa. Os brasileiros começam a procurar culpados. Dunga, Felipe Melo, Kaká, Jabulane ou o árbitro? A busca pelos culpados varou o dia e a noite. E enquanto muitos preferiam a ressaca da derrota, preferi mudar de assunto e esquecer esse episódio. Lá fomos nós e um casal de amigos, no frio de 16 graus daquela noite seca, assistir a um concerto. Coral Comunitário da UnB. Ao pegar o programa, dei de cara com um Requiem do italiano Luigi Cherubini. Pudera. Um Requiem para terminar de sepultar o hexa. Para dar adeus ao sonho de voltar para o trabalho mais cedo na terça-feira, dia da semifinal. Ironias a parte, e parafraseando Cherubini, “Requiem aeternam dona eis, Domine, Et lux perpetua luceat eis.” Tradução: “Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno. E a luz perpétua os ilumine.” Até 2014, em chão brasileiro. Aí eu quero ver.

PS: Também dedico este Requiem ao prezado Maradona e sua equipe, que engoliram 4 jabulanes antes de voltar para casa.

Domingo, pra que te quero

Sabe aquele dia em que você não quer olhar para nenhuma roupa social e nem mesmo para a calça jeans? Em que qualquer vestidinho de chita cai bem, ou qualquer roupa de malha, ou um short com camiseta? Para os homens, basta uma bermuda. Esse dia chama-se Domingo, em maiúsculo pela força que representa. Dia santo, literalmente. Dia escolhido, separado para cuidar da alma e da mente. Dia de se desligar da rotina, do trânsito estressante, do chefe prepotente, e se ligar na família, no sol, nas flores que você ainda não tinha prestado atenção. Dia de andar descalço, ou de tênis, ou de rasteirinha, que seja. Dia de andar. Andar sem compromisso, no compasso da vontade e não do tempo escasso. Uma caminhada no parque cai sempre muito bem.

E o almoço de Domingo? Momento sagrado que escala de trabalho nenhuma deveria anular. Se os legisladores soubessem quão importante é o Domingo, proibiriam veementemente qualquer trabalho nesse dia. Que se fechem os shoppings e lanchonetes, supermercados e restaurantes. Que a televisão saia do ar. Vamos celebrar o encontro humano, trocar palavras e risadas com nossos queridos, que não curtimos durante toda a semana. E aqui fica um tributo aos médicos e enfermeiros, policiais e bombeiros, únicos que precisam, de fato, trabalhar, ou melhor, salvar vidas de domingo a domingo. Mas que a escala seja justa e equilibrada.

O acordo coletivo de um certo lugar determina que a cada sete domingos a criatura deve folgar no mínimo dois. Nunca se viu tanta insensibilidade, afinal, sete domingos significam quase dois meses inteiros. Que regra é essa que priva alguém de desfrutar de momentos indispensáveis à saúde física, mental e espiritual? Só um domingo por mês de folga é uma afronta ao relacionamento familiar e a auto-estima. Gera seqüelas, gera até depressão. Quem, afinal, resiste ileso a um dia tão lindo dentro de uma sala fechada com um maldito ar-condicionado enquanto os outros saem pela rua sem pressa, sem compromisso... Um grito de liberdade aos empregadores sanguessugas, que descansam com sua família no Domingo enquanto “Os Miseráveis” cumprem uma escala sórdida. Abaixo as escalas de domingo. E viva a liberdade de não fazer nada.

O fantástico mundo do Blog

Por muito tempo adiei essa estreia no fantástico mundo do blog. Tenho guardado coisas que queria compartilhar. Tenho entulhado palavras na pasta Meus Documentos, onde ninguém nunca iria achar. Por isso decidi fazer de uma vez por todas esse passaporte para o espaço virtual, esse lugar sem limites, cheio de destinatários e remetentes que têm um objetivo em comum: Comunicar-se. Falar de mágoas, sucessos, impressões, percepções. Espaço de desabafo, de notícia quente ou fria, boa ou ruim. A partir de agora deixo a singularidade do meu computador para chegar a esta rede. O endereço da minha inspiração, ainda que rara, passa a ter '.com' como logradouro.

"Criar filhos ou criar obras de arte é sempre um ato de amor, mas o escritor pratica esse ato sozinho. Se não fosse o fato de existir o leitor, ele estaria praticando um ato solitário, chamado vício solitário. Mas ele tem esse leitor. Por isso que eu cultivo tanto o leitor, porque o amor se faz pelo menos a dois". Afirmou Fernando Sabino no filme 'O Encontro Marcado'.